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DISPLASIA COXOFEMORAL PASTOR ALEMÃO

DISPLASIA COXOFEMORAL PASTOR ALEMÃO

Introdução
A displasia coxofemoral é definida como uma doença biomecânica de alta debilidade,
representada pela disparidade entre o crescimento rápido ósseo e a massa muscular.
Caracteriza-se pela instabilidade da articulação coxofemoral, causando incapacidade de
sustentação, e consequentemente, incongruência articular. Sua etiopatogenia é multifatorial, e
extremamente complexa, que comumente resulta em alterações articulares degenerativas
irreversíveis. Quanto à sua origem, considera-se que pode ser hereditária, de natureza
ambiental e nutricional. Os cães nascem com as articulações coxofemorais normais, que
posteriormente, sofrem alterações estruturais, sendo que sua progressão e sintomatologia,
sofrem inúmeras influências.
A Orthopedic Foundation for Animals (OFA), vem acompanhando, desde 1974, a
prevalência da doença em mais de 50 raças de cães, permitindo a elaboração de um ranking
das raças mais afetadas, e possui o maior banco de dados do mundo de exames radiográficos
do quadril. As imagens submetidas passam por avaliação e classificação de três radiologistas
certificados no conselho. No Brasil, dentre as dez raças com maiores números de registros em
2018 pela Confederação Brasileira de Cinofilia, as maiores prevalências foram verificadas em
Bulldog com 70,9%, Pug com 70%, Fila Brasileiro com 30%, American Pit Bull Terrier com
23,2%, Rottweiler com 21,2%, Shih Tzu com 20,9%, Golden Retriever com 19,9%, Beagle com
17,8%, Akita com 13.5% e o Labrador Retriever com 12,1% (OFA, 2019).
Estes valores divulgados pela OFA demonstram a relevância da doença para a criação
de cães, sendo necessário seu entendimento e esclarecimento por parte de profissionais para
que possam atuar no sentido de ter uma contribuição efetiva na diminuição desta patologia.

Métodos de diagnóstico da displasia coxofemoral
Os sinais clínicos da displasia coxofemoral, quando presentes, não são patognomônicos
para a doença e, portanto, é imprescindível a realização de uma avaliação ortopédica e
neurológica minuciosa. O único método seguro para o diagnóstico definitivo da doença é a
realização do exame de displasia coxofemoral. Adicionalmente, tanto a Associação Brasileira de
Radiologia Veterinária como a OFA recomendam que o diagnóstico ‘definitivo’ para displasia
coxofemoral só deve ser realizado em cães com idade mínima de 24 meses.
A partir dos resultados de imagem do exame de displasia coxofemoral para a avaliação
do quadril, a articulação pode ser classificada de diferentes maneiras, dependendo do sistema
utilizado no país, ou pode-se utilizar sistemas para quantificar o grau de displasia coxofemoral.

Métodos de diagnóstico da displasia coxofemoral
Os sinais clínicos da displasia coxofemoral, quando presentes, não são patognomônicos
para a doença e, portanto, é imprescindível a realização de uma avaliação ortopédica e
neurológica minuciosa. O único método seguro para o diagnóstico definitivo da doença é a
realização do exame de displasia coxofemoral. Adicionalmente, tanto a Associação Brasileira de
Radiologia Veterinária como a OFA recomendam que o diagnóstico ‘definitivo’ para displasia
coxofemoral só deve ser realizado em cães com idade mínima de 24 meses.
A partir dos resultados de imagem do exame de displasia coxofemoral para a avaliação
do quadril, a articulação pode ser classificada de diferentes maneiras, dependendo do sistema
utilizado no país, ou pode-se utilizar sistemas para quantificar o grau de displasia coxofemoral.

Ângulo de Norberg

O Ângulo de Norberg auxilia para avaliar e mensurar o grau de subluxação articular e profundidade acetabular. Esse é calculado pelo ângulo formado entre uma linha que conecta a região central da cabeça femoral em ambos os quadris e outra que une o centro da cabeça do fêmur com a borda craniolateral acetabular. O animal que apresenta valor maior ou igual a 105º, geralmente é considerado livre de subluxação, pois indica acetábulo mais profundo e quadris congruentes, entretanto, ângulos menores que 105º são consistentes com frouxidão articular (Fig. 01).

Radiografia Coxofemoral de Controle de Displasia Pastor Alemão

Figura 01: Mensuração do ângulo de Norberg em um canino.

Setas pretas: demonstram a formação do ângulo de Norberg. De acordo com esta mensuração, 93º e 101º, o paciente pode apresentar frouxidão articular (Fonte: Carneiro et. al., 2020).

A utilização de valores genéticos para displasia coxofemoral como importante ferramenta de seleção

O método de seleção de reprodutores unicamente pelo seu próprio fenótipo (laudo de raio x), tem sucesso muito limitado, tanto que a comunidade científica e cinófila voltou sua atenção para investigações que possibilitassem a criação de outros procedimentos mais eficazes. Neste sentido, um método que vem sendo aplicado é a predição do “valor genético” ou Estimated Breeding Value para os cães de determinadas populações. Este método utiliza-se dos dados fenotípicos não só do próprio animal, mas também de quantos animais a ele relacionados geneticamente tiverem fenótipos conhecidos.

Desta forma, o aumento do cadastramento em bancos de dados de resultados dos laudos de ancestrais, colaterais e filhos é o que possibilita a predição do valor genético de cada animal de forma acurada. A utilização dos Estimated Breeding Value é recomendada para propósitos de seleção, ou seja, as informações do Estimated Breeding Value dos cães devem ser utilizadas para a decisão de permitir ou não a reprodução do animal, além da escolha mais indicada do casal a ser formado para permitir uma prole com menores incidências de displasia. Um passo essencial para a predição do valor genético de um cão, após a disponibilidade de fenótipos do mesmo e de seus parentes, é a transformação dos resultados do laudo de RAIO X em medidas quantitativas, como a proposta pela Estimated Breeding Value no Reino Unido

Essa predição do Estimated Breeding Value envolve procedimentos estatísticos que levam em conta, de maneira diferenciada, os fenótipos de animais relacionados ao cão em que há interesse de se conhecer o valor genético.  Nestes procedimentos, as informações dos scores de pais possuem um peso maior para o cão do que scores de seus avós (geneticamente mais distantes do que os pais), e valores de irmãos pesam também mais para a predição do Estimated Breeding Value de um cão do que os valores de primos. Quanto maior for o número de laudos de raio x (fenótipos) da família do cão, maior é a acurácia do valor de Estimated Breeding Value. Além disto, scores de filhotes podem também entrar no cálculo do Estimated Breeding Value de um cão e, novamente, quanto maior o número de filhotes, maior será a informação da família, portanto maior será a acurácia no processo de predição das Estimated Breeding Value de cada cão da população.

Em se tratando da displasia coxofemoral, o valor de Estimated Breeding Value deve ser utilizado para escolhas dos cães reprodutores. Como a predição do Estimated Breeding Value leva em conta scores das articulações, quanto menor e mais distante de “zero” for o valor de Estimated Breeding Value de um animal (valores mais negativos) indica menor predisposição genética. Ao contrário, quanto maior e mais de distante de “zero” for este valor (valores mais positivos), mais arriscado é a reprodução de um animal, e cães com valores positivos não devem deixar descendentes. Quanto mais baixos forem os Estimated Breeding Value de um casal, mais baixa tende a ser a predisposição genética para a doença nos filhotes. Este tipo de seleção vem sendo utilizado há alguns anos, e sua eficácia na diminuição da prevalência de displasia já foi comprovada em diferentes raças.

Como foi observado no trabalho realizado por LEWIS et al.  (2010), no qual, notou-se melhora de 19% quando se utiliza Estimated Breeding Value para a seleção de reprodutores da raça Labrador Retriever (Reino Unido), quando comparado à utilização apenas dos fenótipos (laudos de raio x) do casal. Em 2013, LEWIS et al. perceberam que a utilização de Estimated Breeding Value para o melhoramento genético da displasia foi em média 1.6 mais acurada do que a seleção pelo fenótipo (ou seja, 60% mais acurada), em 15 raças diferentes de cães no Reino Unido.

Neste sentido, uma das poucas associações de criadores que estabeleceu há décadas um controle mínimo para a doença no Brasil, através de uma relativa rigidez para a liberação de reprodutores baseada nos laudos de raio x, forneceu os dados para o primeiro trabalho nacional publicado em 2019, como sendo o primeiro estudo sobre Estimated Breeding Value para displasia coxo femoral brasileiro, com a raça Pastor Alemão.

Conclusão

A arquitetura genética da displasia coxofemoral é complexa, com muitos genes associados, tendo sua expressão combinada com a presença dos efeitos ambientais e nutricionais. Este fato torna difícil o desenvolvimento de testes genéticos, apesar da grande expectativa por parte de criadores e de profissionais de que testes comerciais configure uma excelente ferramenta para o controle dessa doença.  É fato que a genética desempenha um papel de grande relevância na prevalência de displasia coxofemoral nas diversas raças, visto que as estimativas de herdabilidade para a doença são elevadas, assim como pelo conhecimento gerado de que há vários locus genes associados a displasia coxofemoral em raças distintas.

O método de seleção de reprodutores baseado nos valores genéticos dos cães (machos e fêmeas) é a alternativa mais viável para que a diminuição da prevalência dessa doença seja mais bem-sucedida nas próximas gerações. Profissionais que atuam na cinófila devem ter o conhecimento correto sobre a etiologia genética da displasia coxofemoral de modo a auxiliar na seleção efetiva de reprodutores. Somente com a adoção de procedimentos técnicos adequados se atingirá a desejada melhoria no processo de prevenção dessa doença, o que é tão importante para o bem-estar animal.

Fonte:

ABRV- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RADIOLOGIA VETERINÁRIA -Normas do Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária (CBRV) para Avaliação da Displasia Coxofemoral em Cães. Disponível em: http://www.abrv.org.br/arquivos/normas-do-colegio.pdf

CARNEIRO, R. K., BING, R. S., e FERREIRA, M. P. Avaliação radiográfica da displasia coxofemoral em cães. Ciência Animal., p. 104-116, 2020.

COMHAIRE, F.H.; SNAPS, F. Comparison of two canine databases on the prevalence of hip dysplasia by breed and the relationship of dysplasia with body weight and height. American Jornal off Determinar Ressarce, v. 69, n. 3, p. 330-333, 2008.

GINJA  M.  et  al.    Emerging  insights  into  the  genetic  basis  of  canine  hip  dysplasia. Veterinary  Medicine: Research  and  Reports, v.6,  p:  193–202,  2015.  Disponível em https://www.dovepress.com/emerging-insights-into-the-genetic-basis-of-canine-hip-dysplasia-peer-reviewed-article-VMRR. doi: 10.2147/VMRR.S63536.

LODER, R.T. & TODHUNTER, R.J., The Demographics of Canine Hip Dysplasia in the United States and Canada.Journal of Veterinary Medicine: 5723476, 2017. Disponível em https://www.hindawi.com/journals/jvm/2017/5723476. doi:10.1155/2017/5723476.

MÄKI K et al., Estimates of genetic parameters for hip and elbow dysplasia in Finnish Rottweilers. Journal of Animal Science, v.78, n.5, p. 1141–1148, 2000. Disponível em https://academic.oup.com/jas/article-abstract/78/5/1141/4625724?redirectedFrom=fulltext.   doi: 10.2527/2000.7851141x

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