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Mitos e verdades: Displasia coxofemoral é só de origem genética?

Mitos e verdades: Displasia coxofemoral é só de origem genética?

(Dr. Felipe de Barros, CRMV/SP- 40.913)

Apesar de quase um século de pesquisa, a displasia coxofemoral possui etiologia complexa e o tratamento ideal ainda continua um paradigma. Desde seus primeiros relatos na década de 30, originalmente proposto por Schnelle (1937)  em uma reunião da Veterinary Medical Society, na cidade de Nova York, como uma patologia poligênica e multifatorial, decorrente de uma série de doenças degenerativas hereditárias e também induzidas por fatores ambientais, nutricionais, excesso de exercícios na fase de desenvolvimento osteoarticular e, ao próprio processo de síntese óssea, afetando diferencialmente a morfologia e a função do quadril dos cães (SCHACHNER e LOPEZ, 2022).

Segundo a Orthopaedic Foundation for Animals (OFA), a displasia coxofemoral afeta todas as raças com prevalência estimada variando de 1% a 80%, porém, uma taxa relativamente alta é encontrada em cães de grande porte e braquicefálicos, bem como naqueles com alto comprimento corporal em relação à altura.

Existem muitas teorias para explicar a degeneração articular da displasia coxofemroal, mas a frouxidão articular e a ossificação endocondral irregular ou atrasada estão entre as mais populares. As condições não são mutuamente exclusivas e sua expressão fenotípica é variável dentro e entre as raças. As articulações afetadas geralmente desenvolvem vários graus de inflamação sinovial, danos na cartilagem articular ( Figura 1 ), osteófitos e esclerose e remodelação do osso subcondral. Embora não haja uma descrição única e abrangente da sequência de eventos no processo, há mudanças que ocorrem em muitas formas de displasia.

Figura 1. Anatomia da displasia coxofemoral canina.

 

 

Dados apresentados pela OFA indicam alta correlação de displasia coxofemoral com o peso, independente da raça. Esse excesso de peso que os animais suportam em suas articulações colaboram para ocorrência de problemas articulares e locomotores, ocasionando intolerância ao exercício, dificultando a queima calórica e ao processo de emagrecimento, e de um modo geral, todo este quadro influencia a saúde e o bem-estar animal.

Corroborando com os dados apresentados pela OFA, Burkholder e Hulse (2000), estudaram 47 cães da raça Labrador Retriever, chegando à conclusão que os animais que se mantiveram magros (restrição alimentar) durante toda vida, viveram 15% mais tempo, ou seja, com uma expectativa média de vida de 12 anos em comparação com o grupo controle (sobrepeso), que tiveram expectativa de vida de 9 anos. Além disso, os autores relatam que a limitação do consumo de alimentos em 75% do que é fornecido para os cães controle resultaram na redução de 67% na prevalência de displasia coxofemoral aos 2 anos de idade e reduziu significativamente a prevalência e a gravidade da articulação do quadril com osteoartrite aos 5 anos de idade.

Continuando os estudos de Burkholder e Hulse (2000), com os mesmos animais até o oitavo ano de vida, Kealy et al. (2017) observaram através de exames radiográficos que os animais com restrição alimentar (magros) quando comparados com os cães controle (sobrepeso) tiveram prevalência e gravidade da osteoartrite baixa nas articulações escápula-umeral (ombro), articulações úmero radio ulnar (cotovelos) e coxofemoral (quadril). No grupo controle (sobrepeso) 68% dos animais tiveram as articulações dos ombros e coxofemorais afetadas, no entanto, apenas 10% dos animais com restrição alimentar (magro) tiveram essa combinação de articulação afetada.

Ibidem ao estudo relatado, o número de cães com lesões em múltiplas articulações foi substancialmente menor nos animais magros, em comparação com os cães com sobrepeso. Esse envolvimento de múltiplas lesões articulares, pode estar atribuído aos danos mecânicos que se desenvolveram subsequentemente aos efeitos de artrite em algum local primário, resultando em alterações de forças biomecânicas, levando a sustentação e deambulação alternada como resposta compensatória.

Para concluir os autores discorrem que, a ingestão alimentar pode estar correlacionada a prevalência de osteoartrite no quadril (displasia) devido ao sobrepeso. Além disso, os autores relatam drástica redução de incidência de displasia coxofemoral e de artrites nos animais magros, assim como, baixa incidência de múltiplas lesões articulares. Esses resultados demostram que o sobrepeso piora a qualidade de vida do animal, reduz o tempo médio de vida, aumenta a prevalência de patologias osteoarticulares, incluindo a displasia coxofemoral, além de agravar os sintomas clínicos dessas patologias podendo até comprometer outras articulações saudáveis.

 

Referências

 

Kealy, R. D., Lawler, D. F., Ballam, J. M., Lust, G., Biery, D. N., Smith, G. K., & Mantz, S. L. Evaluation of the effect of limited food consumption on radiographic evidence of osteoarthritis in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 217, n. 11, p. 1678-1680, 2017.

Orthopaedic Foundation for Animals (OFA). What is Canine Hip Dysplasia? Acesso em: 27/03/2023. Disponível em: https://ofa.org/diseases/hip-dysplasia/

Schachner, Emma R.; Lopez, Mandi J. Diagnosis, prevention, and management of canine hip dysplasia: a review. Veterinary Medicine: Research and Reports, p. 181-192, 2015.

Schnelle, G. B. Congenital subluxation of the coxofemoral joint in a dog. Univ Pa Bull. 1937; 65:15-6.

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